Direção e coreografia de Gene Kelly e Stanley Donen. Metro. 102 min. Cor. Produção e letras de canções de Arthur Freed.
Roteiro: Adolph Green, Betty Comden. Fotografia de Harold Rosson. Direção musical de Lennie Hayton. Música de Narcio Herb Brown.
Com Gene Kelly, Donald O´Connor, Debbie Reynolds, Jean Hagen, Kathleen Freeman, Rita Moreno, Cyd Charisse, Millard Mitchell, Douglas Fowley, Dawn Addams, Kathleen Freeman, Mae Clarke, Lance Fuller, Snub Pollard, Elaine Stewart,
Sinopse: No fim dos anos 20, quando o cinema falado abala Hollywood, uma dupla de atores tem problemas com o Sistema Sonoro. Principalmente uma estrela agressiva e chata, cuja voz acaba sendo dublada pela namorada do galã.
Bastidores: Embora seja considerado um dos melhores musicais de todos os tempos (se não o melhor) foi indicado apenas aos Oscar de Atriz Coadjuvante (Hagen) e Direção Musical. Não ganhou nada. Debbie era uma garota de 19 anos que foi escolhida por Gene Kelly depois que Louis B. Mayer, chefe do estúdio, a viu em Três Palavrinhas e Kelly a treinou especialmente para o papel (foi cortado um número musical onde ela confessava que apenas fingia não ser fã dele e lhe cantava uma canção).
Debbie e Donald voltariam a se encontrar novamente em outra fita a seguir, É Deste que eu Gosto (I Love Melvin, 1953), mas a carreira dele seria muito prejudicada pelo alcoolismo. Durante as filmagens do número título, reza a lenda que Kelly estaria muito resfriado e teriam usado leite misturado com a água para ela poder ser mais claramente fotografada.
O carro que Debbie usa no começo do filme é o mesmo que o personagem de Andy Hardy usava em suas fitas.
A mansão de Kelly tem objetos de cena ainda do tempo de A Carne e o Diabo, com Greta Garbo. Millard Mitchell faz o chefe do estúdio como se fosse Arthur Freed, Douglas Fowley faz o diretor parecido com Busby Berkeley e Madge Blake imita a colunista de fofocas Louella Parsons.
Cyd Charisse havia saído de uma gravidez recente quando rodou suas cenas (lhe deram uma peruca para se parecer com Louise Brooks) e teve que perder quilos rapidamente. Um recorde: a porto riquenha Rita Moreno é a única a ter a honra de ter participado de três dos melhores musicais de todos os tempos: este, West Side Story (que lhe deu um Oscar) e O Rei e Eu.
Crítica: Considerado, sem maiores polêmicas, o melhor filme musical feito especialmente para o cinema em todos os tempos. Legítimo representante da Idade de Ouro do gênero na Metro, foi criado basicamente como pretexto para o produtor Arthur Freed (o gênio que reunia os melhores talentos do estúdio e fazia os melhores filmes musicais) explorar suas composições numa única fita. Ou seja, todas as canções são dele (e a que ele compôs especialmente para Donald O´Connor,Make’m Laugh, é uma cópia pouca disfarçada de Be a Clown, de Cole Porter, que este preferiu fingir que não percebeu a semelhança). Mas o roteiro é muito bem escrito e aproveita para fazer uma divertida sátira aos primeiros anos do cinema falado, quando as pessoas não sabiam como usar o novo sistema de som (que era cheio de imperfeições) e uma das atrizes tinha uma voz péssima e por isso precisava ser dublada.
A fita é basicamente uma homenagem ao próprio cinema, satirizando os “talkies” (como sempre Hollywood adora escrever cartas de amor a si própria). Os diretores parceiros e velhos amigos Stanley Donen e Gene Kelly conseguiram um equilíbrio entre os diversos números (deixando um espaço especial para o “gran-finale” que seria o Broadway Melody, também o nome do primeiro musical da história e da própria Metro a ganhar um Oscar de melhor filme).
Na verdade, Donen havia sido antes assistente de Kelly e a dupla acabou se separando por ciúme, como normalmente sucede. Ainda assim Donen faria outros clássicos como Charada, Sete Noivas para Sete Irmãos e Um Caminho para Dois. De Kelly, nem é preciso se referenciar. Algumas canções são números do teatro vaudeville , alguns incidentes são inspirados em fatos reais (acontecidos com John Gilbert por exemplo) e as danças geométricas que aparecem são citações homenageando Busby Berkeley.
Todos os números parecem fluir naturalmente de uma história funcional, mas na verdade quem rouba o filme é Jean Hagen (1924-77), que faz o papel da estrela de voz de taquara rachada. Ela foi candidata ao Oscar de Atriz Coadjuvante, mas não há outra performance em sua carreira parecida ou que explique esse “tour de force” humorístico. Ela não fez grande carreira (o outro filme conhecido dela foi O Segredo das Joias, de John Huston, 1950, além de Meu Amor Brasileiro, com Lana Turner, e A Grande Chantagem, com Jack Palance). Terminou sua carreira na TV fazendo a mãe do show Make Room for Daddy!, de onde tirou o talento para este papel nem se imagina.
Outra grande presença é a de Donald O´Connor (na trama, ele e Kelly eram parceiros de teatro, mas Kelly fez sucesso no cinema e ele acabou sendo seu assistente). Seu número Faça Eles Rirem realmente é um show-stopper para a fita. Naturalmente há dois outros pontos altos, o grande balé do final que conta uma história (a ascensão de um jovem bailarino que passa por muitas até conquistar a mulher fatal que sempre desejou), mas que é mais memorável pela presença de Cyd Charisse (excelente bailarina e uma das pernas mais perfeitas do cinema). E a música-título, que foi encenada de maneira perfeita por Kelly, no que deve ser provavelmente o melhor número musical de todos os tempos. Ao menos o mais querido e feliz.
Cantando na Chuva é a prova mais clara de que a gente sempre deve desconfiar do julgamento contemporâneo. O sucesso de hoje nem sempre é merecido e o fracasso na estreia pode ser uma grande injustiça. Veja o caso de Cantando na Chuva.
Quando estreou em 1952, era apenas mais um filme musical da Metro, dentre tantos. E fez uma carreira normal, passou nos cinemas, não foi fracasso mas não ganhou prêmios nem foi saudado como uma obra-prima. Houve mesmo alguns que o picharam (em particular no Brasil, onde havia uma moda de falar mal dos musicais americanos, acusados de “escapistas”).
Não saiu ainda em Blu-ray, mas temos em DVD, uma versão da Warner (a quem pertencem os títulos da Turner, ou seja antiga Metro, RKO e Warner), que comemorava os 50 anos do filme incorporando alguns extras (que na verdade eram os mesmos da edição em Laser Disc original).
Reza a lenda que Gene Kelly insultou Debbie Reynolds por não saber fazer uma coreografia e teria sido Fred Astaire que a encontrou chorando debaixo de um piano e a teria ajudado. Na época, Debbie vivia com os pais e acordava as 4 da manhã para pegar diversos ônibus e às vezes tinha até que dormir no próprio set do estúdio. O negativo original do filme foi destruído por incêndio. O figurinista Walter Plunkett que trabalhou no cinema desde 1929, contou alguns fatos reais que foram usados. Jean batendo com o leque em Kelly é baseado em incidente semelhante que sucedeu em Bebe Daniels e John Boles em Rio Rita.
Muitas estrelas do mudo são parodiadas na cena de abertura Zelda Zanders - a "Zip Girl" - é Clara Bow, a "It Girl". Olga Mara é Pola Negri, e seu marido Barão de la Bonnet de la Toulon, uma refêrencia ao marido de Gloria Swanson, o Marques Henri de la Falaise de Coudray.-R.F. Simpson, chefe do estúdio, é obviamente paródia de Louis B. Mayer, com toques de Arthur Freed e o diretor também é baseado no excêntrico Erich von Stroheim.
Donald O' Connor admitiu que não gostava de trabalhar com Kelly porque ele era um tirano que gritava muito.
Um microfone foi escondido na blusa de Debbie Reynolds e durante um número de dança dava para ouvir seu coração bater, como o que sucede com Lina no filme. Foi votado em décimo lugar pelos melhores filmes de todos os tempos pela revista Entertainment Weekly. O American Film Institute, em 2007, o escolheu como o quinto melhor filme de todos os tempos. O orçamento do longa foi US$2,540,800. Foi sucesso e retornou US$7.7 milhões de lucro no lançamento original.
FONTE: rubens ewald filho
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